salmo engano

do tempo derretido em brasa
forjo o metal do verso e afio
a lâmina: amoldo o papel à caneta,
arrumo espaço e arremato: dobro
o inquebrantável a sonoros golpes
de marreta esferográfica. dou forma
ao que era inerte e frio.
mato a morte.
acendo o concreto das horas.
faço ceder a viga do insustentável.
eis minha arma que se ergue na guerra
contra a soberba do mundo:
homem versus humano.

este poema há de contaminar
com o poder de uma droga
como o café ou a bíblia.
sim,
o homem criou um deus à sua imagem e semelhança
e seus milagres são meras hipérboles.
jesus era só amor e poesia
e seu pai um eufemismo barato.
lançou seus versos aos ares e céus.
eis o poeta mais injustiçado de todos os tempos:
o filho bastardo de deus.
lutou como pôde no jogo,
faltou-lhe apenas gravar as próprias palavras
a ferro, punho e fogo.

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